domingo, 9 de março de 2014

Em tempos de lepo lepo o melhor é ser "antiquado"

Há quase duas décadas temos testemunhado o apocalipse da música brasileira com letras que denigrem a imagem feminina, cantando uma mulher extremamente interesseira e, sobretudo, ninfomaníaca. Talvez essa seja a impressão que alguma de nós deixamos para os homens quando vamos as festas e dançamos músicas vulgares com movimentos vulgares e vestidas a caráter, e ao final da “balada” depois de tantas latinhas e alucinógenos, beija-se todos e todas, sai-se da festa e... não lembra nada que aconteceu. Resultado: vídeos no youtube, fotos compartilhadas no facebook e no whatsapp de um comportamento um tanto comprometedor. Isso é o que a maioria da galera, dos jovens descolados fazem e escutam e, quem não segue essa “onda” é tachado de antiquado dominado pelos dogmas da caretice.Nesse cenário, prefiro ser retrógrada, não ir à balada e muito menos escutar o ran ran ran, o toda enfiada, o camaro amarelo, a doblô e variações. Prefiro voltar-me às minhas memórias e ouvir músicas que marcaram aquela época. A música faz parte de minha história há muito tempo, pequenina já curtia com meu pai, um fanático da jovem-guarda, Wanderléia, Erasmo Carlos, Jerry Adriani, Sérgio Reis, Martinha, Wanderley Cardoso, Eduardo Araújo, Vanusa, Renato e seus Blue caps, os Feveres... Na casa de minha avó materna ouviam-se os grandes clássicos da música sertaneja de raiz ou as toadas de vaqueiros. Barrerito, Tonico e Tinoco, Enezita eram alguns dos discos que tocavam na antiga radiola. Ouvia-se também os duelos de repentistas, cujos motes sempre versavam sobre a lida com o gado e a vida do sertanejo. Na casa de meu avô paterno, tínhamos Agnaldo Timóteo, Nelson Rodrigues, Nelson Ned, Dalva e Erivelton. A esse universo misturava-se as canções que tocavam no bar do primo Diassis, em Bernardo Vieira, da paraibana arretada, Elba Ramalho. Lembro-me que eu ficava pinotando na calçada do bar cantando “eu quero um banho de cheiro, eu quero um banho de lua, eu quero navegar...” Em Serra Talhada, meu pai um apaixonado por loiras geladas, ia para os bares e me levava junto. Enquanto ele se esbaldava com a cevada maltada, eu me deliciava com os tira gostos e inevitavelmente aprendia as canções de roedeira, Maísa com o seu refrão “meu mundo caiu...” e José Ribeiro, apaixonado, cantava “tens a beleza da rosa, uma das flores mais formosas...”. Ah, tocava também o inexorável Assisão e o seu “peixe piaba”. Durante minha infância, no Aaaaalto do Bom Jesus, os points eram o bar de Adalice e o bar de Macilene, não tinha pra ninguém, mas mesmo assim a bodega de Dona Maria Pedro era o lugar daqueles que queriam beber mais reservadamente. E ao som de Amado Batista, Roberto Muller, Maurício Reis e Adelino Nascimento, eu me entretia com os didas de coco que ela vendia. Na rua 4, além de briga todo final de semana, havia também forró. Era forró de arrastar o chinelo, realizado na garagem da casa de Chiquim. Naquela época, eu já ensaiava os passos de xote ao som de Luiz Gonzaga tramelando a farra dos adultos. Era uma animação sem fim! Quando ia para casa de um tio, lááááá no IPSEP, na época o fim do mundo, a imagem de tio Nezim, dedilhando um violão e cantando boleros era completamente envolvente, mas com um comportamento meio arredio, seu filho ficava em seu quarto ouvindo o maluco beleza do Raul. Mas foi com a TV, em preto e branco, especialmente os programas do Velho Guerreiro que eu conheci as canções de José Augusto, Biafra, Giliarde, Rosana, Kátia, Biquini Cavadão, Titãs, Roupa Nova, Capital Inicial, Rita Lee, Cazuza, Legião Urbana, Nenhum de Nós, Kid abelha, Leoni, Léo Jaime, Kid Vinil, Djavan, Milton Nascimento, Chico, Gal, Caetano, Bethânia, Oswaldo, Fafá, Elis, Ney Matogrosso, Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Lulu Santos, Guilherme Arantes, Tim Maia, Alcione, Simone, Joana e tantos outros... Belchior lembra-me um colega, o qual convivemos da quinta série até o 3º ano, sempre que queria fila, ele cantava “eu sou apenas um rapaz latino americano sem dinheiro no banco”... quanta saudade! Depois descobri Renato Teixeira, Almir Sater, Geraldo Azevedo, Elomar, Jorge Benjor, Pixinguinha, Adoniran Barbosa, Noel Rosa, Beth Carvalho, Tom Jobim, Luis Melodia, João Bosco, Ivan Lins e outros tantos consagrados, que já não fazem tanto sucesso entre os jovens do lepo lepo, mas que continuam na minha parada de sucessos. São canções cujas letras abordam o amor, as despedidas, os desencontros e reencontros, dificuldades, soluções... falam da vida e continuarão fazendo a história da música brasileira e dos brasileiros que optaram em ser “antiquados”. Professora Magda

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